Casa.

Hoje perguntaram das malas...ainda não fiz. Estava evitando até pensar que eu vou mesmo embora, que a Samara esta aqui pra me ajudar a arrumar minhas coisas, mas hoje caiu a ficha quando perguntaram da mala. É, eu preciso ajeitar minhas coisas, mas aí eu saio, encontro algum amigo e onde quer que eu vá eu fico com o olhar perdido tentando lembrar de cada detalhe dali e dá frio na barriga. Eu devo tudo o que eu sou a essa cidade - Belém. Quando eu vim pra cá, pequenina, eu não tive tempo de vir com um preconceito na cabeça, mas lembro da minha mãe chorando, achando tudo estranho e hoje ela estava chorando porque eu vou voltar pra ‘casa’. Meus melhores amigos eu conheci aqui, na quinta série, e eles continuam na minha vida até hoje. Daqui a 9 dias eu vou morar com uma dessas pessoas. Eu corri na chuva nas ruas estreitas de Belém, caminhei de madrugada pra afastar os fantasmas da minha cabeça e me apaixonei. Eu me magoei, eu me parti em pedaços e Belém sempre me ajudou. Eu não vou conseguir substituto para a companhia que o rio me fazia quando eu precisava fugir de tudo. Foi aqui que eu sentei no meio fio pra chorar minhas notas baixas, os empregos que perdi e todos os meus fracassos pessoais. Foi aqui que eu aprendi o que significa ter uma família e ver que a que eu tenho é um dos melhores tipos. Foi aqui que eu construí tantos valores e regras que eu acabei não conseguindo manter e me tornei mais humana. Foi aqui que eu percebi que não existe essa coisa de amor eterno ou predestinação, foi aqui que eu me tornei uma mulher. Belém é a minha casa e dói à barriga pensar que eu não vou ver a chuva, não vou estar em Salinas no próximo verão e que vou perder os domingos com a minha família. Deixar meu quarto. Deixar o Luiz. Deixar meus pais. Deixar a mim aqui. Tudo o que eu fui, toda a minha história, todas as barreiras, tudo vai ficar. Eu tô encerrando um capítulo maravilhoso da minha vida pra começar tudo do zero com todas as forças. Obrigada mãe Belém, por tudo.